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Luiz Otávio dos Santos

E

ra março de 1973. Eu ainda tinha 17 anos, quando tomei conhecimento do Movimento GEN, após meus pais terem participado de um “encontro de casais".

Eu procurei o grupo por curiosidade. Não fazia a menor ideia do que iria encontrar. A reunião, de sábado à tarde, era em um barracão, na Gov. José Malcher. O que me tocou, e fez com que eu retornasse às reuniões seguintes, foi o acolhimento. Todos eram muito atenciosos, cumprimentando-me; também na linguagem empregada e no trato da religião. E à medida que eu frequentava aquele ambiente, ia me envolvendo nas atividades do Movimento GEN.

Um certo dia, fui convidado a integrar o Grupo Musical GEN SINCO. Eu nunca pensei em carreira artística; não sabia tocar nenhum instrumento e não sabia cantar. O máximo que eu já fizera, até então, foi participar do Canto Orfeônico, na escola. Ainda assim, Heleno – quem comandava o grupo – convidou-me para integrar o Conjunto. À época, eu estava terminando o ensino médio na Escola Técnica Federal e, naquele momento, muitas dúvidas afloravam. Era o momento das descobertas existenciais, espirituais e profissionais.

O ingresso no Conjunto GEN significou um degrau na minha vida, quanto aos aspectos citados; mas, sobretudo, no que respeita à questão cultural. A “Escola GEN”, que o Heleno criou, contribuiu muitíssimo para entendermos a mensagem que ele queria passar através dos shows. Sim, era uma visão perspicaz, sensível e de grande embasamento literário, filosófico e, digamos, bíblico. Mas era a visão dele, Heleno, ainda que contasse com a benção, o endosso e os aplausos dos demais dirigentes.

Éramos rapazes que estávamos alcançando à maturidade. Tínhamos pouca formação cultural. E mesmo os que estudavam em colégios particulares sabiam apenas algumas frases feitas ou breves citações que haviam aprendido no colégio – e nada mais. Portanto, a convivência no Conjunto foi sempre um aprendizado, em razão do grande conhecimento de Heleno, o mentor do grupo.

A “Escola GEN” – da qual participavam todos os integrantes do GEN SINCO (ao lado de outros jovens do Movimento) – serviu para nos formar e fazer entender a mensagem que estávamos tentando transmitir aos espectadores. Creio que também serviu para aprofundarmos o relacionamento entre nós, integrantes do Conjunto; construir amizades; horizontalizar o olhar a respeito do “Ideal”; e entender que todo o ensinamento espiritual que recebíamos só teria sentido enquanto práxis.

A "questão artística" foi deveras importante, porque passei a enxergar dimensões da realidade antes desconhecidas, como a música em si, as letras de canções, a mensagem, o roteiro, a dança, a coreografia – entre outros aspectos –, que contribuíram para o desenvolvimento de minha sensibilidade estética de modo geral.

Depois, morando em São Paulo, tive a oportunidade de fortalecer e enriquecer esse conhecimento. A participação nos shows era sempre uma grande expectativa, porque a venda dos ingressos era feita por nós mesmos, integrantes e membros da comunidade Focolare.

 

Os locais onde eram apresentados os shows não eram espaços onde, usualmente, apresentavam-se outros espetáculos. E não éramos propriamente “artistas”, mas, sim, um grupo de jovens idealistas; cristãos que queriam contar ao mundo a sua descoberta espiritual, e se utilizavam daquele espaço, daquelas vestimentas, daqueles textos, músicas e danças como ferramentas para traduzir aquela descoberta.

Os shows que eu recordo, dos quais participei, são: o da Igreja das Mercês (Eli, Eli), o da Capelinha de Lourdes (O que Fizeram do Natal), o de Macapá e o do barracão (Mostra 73), representado na sede GEN. Lembro do Sávio, do Edilberto (no violão), do "Ting", do Lobão, do “Profeta” (na bateria), do Américo (na guitarra) – e tantos outros.

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