O MELHOR SONHO DAS NOSSAS VIDAS
I
maginem um grupo de jovens dos anos sessenta, do século passado, marcados, como todos os outros, pelas tensões da Guerra Fria; e cuja perspectiva era a de ter que decidir, no âmbito das disputas ideológicas de época, entre o BEM e o MAL, ELES e NÓS, ESQUERDA e DIREITA, COMUNISMO e CAPITALISMO, mas que tiveram a sorte de ter a possibilidade de sonhar por outros caminhos, de inefáveis veredas. Um pouco dessa experiência é o que aqui se conta.
Foi uma experiência ocorrida em Belém do Pará, em plena Amazônia brasileira, a partir do encontro que tivemos com o IDEAL de Chiara Lubich, a nós transmitido através do Movimento dos Focolares e, mais precisamente, do Movimento GEN – daquele, o setor juvenil.
Ao propor-nos o AMOR A DEUS e AO PRÓXIMO, na RADICALIDADE, como viveram Jesus e Maria, com todas as consequências humanas daí resultantes – de modo a poder-se sonhar com um mundo novo de FRATERNIDADE e UNIDADE, plasmado pela oração dirigida por Jesus ao Pai: “QUE TODOS SEJAM UM” –, Chiara nos fez experimentar a alegria, a esperança e uma convivência de comunhão que, uma vez existente entre nós, estendia-se a toda a comunidade do entorno.
E se eram tempos de guerra e de opressão, em que tudo parecia desmoronar – inclusive a ESPERANÇA na humanidade –, graças a essa experiência – indizível "milagre" – tudo parecia se recompor, ressuscitar, ganhar sentido – pelo menos para nós e para toda a comunidade internacional do Movimento dos Focolares, que trilhou o mesmo caminho.
Assim, nessa sintonia, como uma chama ardente no meio da floresta, foi-nos possível vislumbrar a possibilidade de um “novo tempo”, de uma “nova vida”, como se, por súbito encantamento, tivéssemos divisado uma outra (e extraordinária) direção para a nossa história – uma nova SETA DO TEMPO.
Como era comum, na época de juventude, a paixão pela música e pelo teatro, não nos foi difícil conceber a criação de um “Conjunto GEN”, que depois ganhou o nome de SINAL DE CONTRADIÇÃO, presenteado pela própria fundadora do Movimento; o GEN SINCO, que ficou conhecido não apenas no âmbito eclesial, mas, amplamente, pela sociedade civil local – e, mesmo, em certos nichos do Movimento dos Focolares e da Igreja, em nível nacional e internacional.
Foi uma experiência marcada pela comunhão recíproca, pela presença de Deus entre nós e pelo amor agápico, próprio das verdadeiras comunidades cristãs – que não descura (justo por ser divino) da formação cultural e humana de seus membros.
Vivemos, assim, no ápice de nossa juventude, uma escola de vida, de partilha de talentos e experiências, de abertura ao próximo, de internalização dos valores cristãos que nos formaram como homens e como cidadãos de nosso tempo – abertos às mudanças de época, às manifestações do Verbo nas várias expressões culturais e ao diálogo com os diferentes segmentos que constituem a sociedade contemporânea, em sua contraditória e sempre mutante configuração.
No contato com o IDEAL DA UNIDADE (com a verdadeira vida evangélica), foi exercitada e desfrutada, por todos nós que fizemos parte dessa indelével “aventura”, a verdadeira filia, uma utopia que não se esgota, O MELHOR SONHO DAS NOSSAS VIDAS.
Sim, um sonho que se tornou realidade e que, agora, pelo presente resgate de sua memória, rende homenagem a CHIARA LUBICH, a inspiradora de tudo, que nos fez amigos e irmãos, justo no momento em que se comemora, in memorian, o seu centenário.
O MELHOR SONHO DAS NOSSAS VIDAS, em suma, só foi possível porque as três estrelas do firmamento de Chiara também brilharam em Belém do Pará, indicando o caminho.
Emanuel Matos