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Francisco Henriques

M

 

 ineiro de Belo Horizonte, vim morar em Belém com cinco anos de idade. Desde cedo, comecei a me interessar por música, influenciado por minha família, de tradição de pianistas (mãe, tias e avós). Mas a paixão pela bateria e pela percussão começou quando eu ouvi os rocks progressivos dos anos 1970 e o Carlos Santana.

Cheguei a montar uma banda, com o pessoal do colégio, usando instrumentos disponíveis na igreja de Santana – que ficava a uma quadra de minha casa (no bairro da Campina, centro comercial de Belém). Porém, não passamos de alguns ensaios, os quais, não obstante, foram a semente musical necessária para eu seguir em frente. 

 

Comecei, então, a assistir ensaios e shows de músicos conhecidos da cidade. Um certo dia, nos idos de 1976, uma tia, que era simpatizante do Movimento dos Focolares, convidou-me para assistir a uma apresentação de uns jovens na Capelinha de Lourdes. Achei meio estranho o local da apresentação; mas fiquei curioso.

Naquela ocasião, fiquei impressionado pela qualidade musical, pelo empenho do pessoal cênico e, principalmente, pelo clima de fraternidade que havia entre os membros daquele grupo. Percebia que se tratavam de jovens amadores, mas que, com a energia que transmitiam as mensagens, superavam qualquer ausência de profissionalismo.

Confesso que prestei mais atenção nas músicas e no baterista. E saí dali com o firme propósito de conhecer melhor e saber mais sobre aqueles jovens.

Naquela época, eu estava me iniciando na música, com o estudo da bateria e percussão. Foi quando decidi que iria tentar tocar com aquela turma. Fato é que, no show seguinte, eu já era integrante do GEN SINCO – e assim seguiu até 1983.

Procurei, assim, desde o primeiro contato, conhecer e entender melhor o que significava aquela experiência comunitária que tanto houvera me atraído e, por consequência, a frequentar as reuniões do Movimento GEN, vindo a ter contato com a espiritualidade que animava e sustentava aquele grupo de jovens.

Lembro que minha primeira participação na banda (o meu “batismo de fogo”) foi gravar, tocando bateria, uma fita com músicas para o Heleno de Oliveira, que havia se mudado há pouco de Belém – a quem eu não conheci. Foi uma experiência única, pois aprendia as músicas na hora e as gravava logo em seguida.

A bateria era da marca Star (japonesa, se não me engano), bem “surrada”. Tratei de melhorá-la com os poucos recursos que tinha. Peguei algumas sucatas na loja Paris n’ América (de propriedade de minha família) e comecei a equipar a bateria (um up grade, como se diz hoje). Comecei comum banco de madeira grande, que precisei serrar os pés para ficar do tamanho ideal para eu tocar. Depois, peguei uma estrutura de metal confeccionada para a exposição de tecidos (que eram vendidos na loja da família) e adaptei-a aos bongôs, adicionando alguns pratos de minha propriedade pessoal – o que me permitiu maior criatividade na execução das músicas. Pronto! Agora a "batera" estava apresentável.

Foi nessa época que acabou ocorrendo uma inversão de prioridades, passando a bateria a ficar em segundo plano. Especializei-me, por força das circunstâncias, a executar a percussão por meio de outros instrumentos, sobretudo os bongôs – tendo sido delegada a função de baterista a outro Gen, o Antônio Trindade, carinhosamente apelidado de “Profeta” (rs).

Enquanto integrei o GEN SINCO, participei dos shows Montaria, na turnê de São Luís (MA) e Teresina (PI); As Sete Cenas de Patmos; Tupambaé e Rei Negado.

Nessa turnê do Montaria, coube a mim e a mais alguns integrantes do conjunto ir espremidos numa Kombi, cheia de instrumentos, com eles dividindo o espaço ao longo de milhares de quilômetros de viagem. Foi uma verdadeira aventura, a considerar todas as "alegrias" que as dificuldades de transporte e hospedagem ali se impunham, pois tudo era feito por idealismo – e este era o espírito do grupo!

Na hora do show, quase que por “milagre”, resolvia-se tudo de última hora! E era esse ambiente que me realizava e me fazia muito feliz!

Outra experiência interessante ocorreu durante um encontro no Centro Mariápolis, em Benevides (PA), oportunidade em que passamos boa parte do tempo instalados em uma casa próxima, ensaiando a banda e preparando os arranjos para os próximos shows. Era uma convivência que fazia crescer a unidade do grupo e enraizava amizades, muitas das quais – hoje me apercebo – jamais se perderiam com o tempo.

A vivência dessa experiência (música + espiritualidade) influenciou, de forma determinante, a minha formação como pessoa e como músico; princípios e valores indeléveis que carrego até hoje em mim.

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