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Evandro Diniz Jr.

A

participação na experiência do Conjunto GEN SINCO, vivida por mim durante a década de 1970 e início da de 80, sem dúvida pode ser entendida como uma “aventura” de múltiplas facetas.

Após ter conhecido o Movimento GEN em maio de 1972, com a idade de 15 anos, comecei a atuar no Conjunto em janeiro de 1973, no show Mostra 73, como contra-regra e responsável pela iluminação do palco. Com o tempo e o aprendizado, fui atuando como ator, cantor e apoio nas encenações.

A vida no GEN SINCO, porém, era mais ampla que as meras apresentações de palco, pois computada uma rica experiência cultural de elaboração coletiva dos espetáculos, incluídos os roteiros, os textos e as canções. Havia uma soma de talentos individuais (bastante diversos entre si), porém sem o cultivo de qualquer forma de individualismo.

Outras atividades que faziam parte de nossa rotina, como integrantes do Conjunto, era a venda de ingressos – nas portas das casas dos bairros vizinhos ao local do espetáculo, nas lojas da zona do comércio, nas escolas, nas universidades e nos outros movimentos da Igreja local – e a busca de impressões e opiniões das pessoas que assistiam à apresentação dos espetáculos – sempre com o objetivo de melhorarmos a qualidade e a eficácia da mensagem. Em algumas situações, recebíamos críticas pesadas sobre as nossas atuações e sobre as questões abordadas nos enredos dos shows – fato que dava mais base e argumentos para melhor expor as nossas posições e crenças.

O gosto pela cultura e pela pesquisa, lapidado por ocasião da elaboração dos scripts dos espetáculos, internalizou em todos o valor do conhecimento para o fortalecimento de uma fé verdadeira; primeiramente em Deus e, depois, no que concerne aos nossos propósitos.

Algumas das mensagens dos shows nós entendíamos e transmitíamos com maior facilidade, a exemplo das críticas às injustiças, às desigualdades sociais, à opressão e busca pelo poder e à instrumentalização do sexo pela sociedade de consumo. Outras, mais sutis, nem tanto.

Alguns pontos das montagens visavam claramente a oferecer uma resposta aos argumentos candentes sobre a “morte de Deus”, bastante em moda àquela época, como reflexo do avanço da cultura do ateísmo (secularização). Tratava-se de um tema que começava a ser entendido por todos nós e, com o passar do tempo, a solidificar em cada um a dimensão de que estávamos fazendo algo mais do que apenas contestando os valores e sonhos de consumo de um tipo de sociedade. Esta visão, aliás, já estava dentro da concepção mais geral das canções e encenações do GEN SINCO, e era muito bem contextualizada pela mente privilegiada de Heleno de Oliveira – nosso orientador espiritual e principal mentor do Grupo.

A experiência dos shows nos deu, como jovens, a possibilidade de viver uma aventura única, que, no fundo, traduzia aspirações da juventude daquela época – como, acredito, também de hoje. Tudo resultou, ao final, em um modelo de formação que, seguramente, nossos pais não haviam planejado para nós, mas que acabou sendo responsável pelo nosso amadurecimento humano e pela conformação e alargamento de nossa visão de mundo – e da existência.

Hoje, ainda temos os reflexos dessa experiência em nossas vidas. Não como um saudosismo, mas como algo que, referenciado e vivenciado, ainda aporta reflexos positivos e permanentes em nosso estar no mundo.  

Em suma: a experiência do GEN SINCO, melhor compreendida com o passar dos anos, ressoa-me como uma obra literária clássica, cuja compreensão não se esgota no tempo, mas é continuamente reverberada e ressignificada – fato que vem evidenciado na própria recuperação de toda essa história, por tantos partilhada, e que agora é coletivamente reconstituída por alguns de seus protagonistas para servir de oferenda aos seus leitores.

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